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A LISTA DA MORTE E O APOIO DA MÍDIA A SEGURANÇA

A LISTA DA MORTE E O APOIO DA MÍDIA A SEGURANÇA

POR :https://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1668864-15605,00.html

Mulher marcada para morrer recebe apoio de artistas

Nome de trabalhadora rural está na lista

de pessoas ameaçadas de morte por

pistoleiros no Pará. Atores e atrizes vão a

Brasília protestar contra a violência no


campo.

 

 

Maria Joelma da Costa é uma brasileira

que, através de seu drama, despertou a

solidariedade de estrelas como Wagner

Moura, Letícia Sabatella e Camila

Pitanga. Ela é uma trabalhadora rural

marcada para morrer.



O sonho era envelhecer juntos. “Foi meu

primeiro namorado, pai dos meus quatro

filhos”, conta a sindicalista Maria Joelma

da Costa.



Não houve tempo para isso. “Dezinho foi

assassinado em 21 de novembro de

2000. Ele deixou o exemplo de um

grande homem, de um pai que não

pensava só na sua família, só nos seus

filhos. Ele deixou exemplo para outros

filhos, para outros jovens”, lembra

Joelma.



José Dutra da Costa, o Dezinho, tinha 43

anos quando morreu. Era o presidente do

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Rondon do Pará. Ele denunciava a

grilagem de terras públicas e a retirada

ilegal de madeira.



“Dezinho já mexeu com os interesses do

município. Ele foi ameaçado durante mais

de oito anos. Um pistoleiro foi visto atrás

da nossa casa. E várias emboscadas

foram feitas para Dezinho”, conta Joelma.



A sindicalista lembra o dia preciso em

que a filha do casal foi buscar o pai para

a morte. “Eu mandei a minha filha caçula

chamar o pai porque tinha uma pessoa

necessitando de falar com ele

urgentemente”, lembra.



Enquanto o marido não vinha, Joelma

serviu café e ficou fazendo sala para o

assassino. “O cidadão estava ali do meu

lado. Eu nunca imaginei que fosse um

pistoleiro armado para matar meu

esposo”.



Em frente de casa, três tiros foram

disparados. O pistoleiro foi preso e

condenado há 29 anos, mas já fugiu da

prisão. O fazendeiro José Décio Barroso

Nunes foi acusado de ser o mandante,

ficou 13 dias preso, mas nunca foi

julgado. Em nota enviada ao Fantástico, o

fazendeiro nega a acusação.



“Geralmente, quando alguém chega a ser

preso, é o pistoleiro. Alguém mandou ele

matar. Mas quem manda matar não está

preso”, ressalta Joelma.



Quando Dezinho morreu, Joelma achou

que tinha o dever moral de continuar a

luta do marido. Primeiro, cobrando por

justiça. E depois assumindo ela própria a

presidência do Sindicato dos

Trabalhadores Rurais de Rondon do Pará.

Desde então, o nome dela nunca mais

saiu da lista dos marcados para morrer.




A lista dos jurados de morte pela

pistolagem é divulgada todo ano pela

Comissão Pastoral da Terra da Igreja

Católica. A última tem 125 nomes. São

camponeses, padres, ativistas políticos e

sindicalistas que receberam ameaças de

morte em 16 estados. De acordo com a

Pastoral, só este ano, dez pessoas já

foram assassinadas por causa de

conflitos fundiários no Brasil.

O documentário "Esse homem vai

morrer", do diretor Emílio Gallo, conta a

história de uma outra lista pública de

pessoas ameaçadas de morte na cidade

de Rio Maria, no sul do Pará.



“Eu também constava em uma lista que

tinha preço. Cada um, conforme o cargo

que exercia, tinha um preço pela cabeça”, conta um dos ameaçados.



No filme, o padre Ricardo Resende, que

teve de ir embora da cidade para não

morrer, volta a Rio Maria para rezar uma

missa. No sermão, ele fala sobre Joelma.

“O marido dela foi assassinado, e ela é

ameaçada de morte”, alerta.



“É muito triste ler seu nome na lista. Eu

não sou uma pessoa livre. Eu não tenho a

liberdade de dizer que quero ir em tal

lugar e posso ir”, diz Joelma.



Um policial à paisana armado escolta

Joelma aonde quer que ela vá, 24 horas

por dia: nas ruas da cidade, no

cemitério, em frente ao túmulo do

marido, nas reuniões do sindicato, em

casa. “Quem não tem medo da morte? Eu

tenho sim. Mas a minha luta é pela vida.

Eu tenho certeza de que quero viver”,

afirma.



A luta da sindicalista para continuar viva

comoveu um grupo de artistas. Eles

foram com ela a Brasília entregar ao

ministro da Justiça a lista dos marcados

para morrer. Em depoimento à cineasta


Júlia Barreto, atores e atrizes

protestaram contra a violência no campo.



“A gente sabe que a violência tem sua

razão na ganância, no lucro imediato e

fácil. Nós precisamos mudar essa

situação”, pede Letícia Sabatella.



“Não admitimos a exploração de um

homem pelo homem de forma covarde e

não admitimos, principalmente, esse

faroeste primitivo”, diz Wagner Moura.



“Que isso não dê continuidade, que a

gente possa parar essa tristeza, essa

crueldade, essa barbárie”, completa

Camila Pitanga.



Joelma hoje é coordenadora regional da

Federação dos Trabalhadores na

Agricultura. E apesar do risco não pensa,

nem por um segundo, em ir embora dO

Pará.

“Eu passei a compreender que a gente

precisa lutar por nossos direitos. Eu

sonho muito que se faça justiça no nosso

Brasil. Estou persistindo, estou na

batalha. Eu não posso perder a

esperança”, finaliza Joelma.



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POR

Rel-UITA

 

19 de dezembro de 2006


Campanha Internacional de Combate à Violência no Campo

 Caso Dezinho

Maria Joel Dias, viúva de Dezinho, recebe prêmio Nacional de Direitos Humanos

 

 

 

Maria Joel Dias da Costa, conhecida particularmente, por nós da Rel-UITA, como “Joelma”, recebeu o XI Prêmio de Direitos Humanos do Brasil na categoria “Defensores dos Direitos Humanos”. Neste ano o prêmio recebeu o nome de Dorothy Stang, em homenagem à missionária assassinada no ano passado na região de Anapu, estado do Pará.

 

Joelma é viúva de José Dutra da Costa, o “Dezinho”, assassinado em 2000 por uma quadrilha de “grileiros” e fazendeiros da região, quando era presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Rondon do Pará. A história deste crime ainda impune foi relatada pela própria Joelma e suas filhas no vídeo produzido em 2005 pela Rel-UITA e pela Contag,* com o apoio dos sindicatos suecos de LO-TCO, no marco da campanha internacional: “Chega de violência no campo. Corte este mal pela raiz”.

 

Joelma é atualmente presidenta do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Rondon do Pará, está ameaçada de morte, mas continua levando adiante a tarefa que era de seu companheiro Dezinho, tragicamente interrompida.

 

Este prêmio, outorgado pelo governo brasileiro do Presidente Lula, põe uma vez mais sobre a mesa o duríssimo conflito interno existente no Brasil envolvendo a distribuição da terra e os direitos trabalhistas e civis dos trabalhadores rurais e pequenos camponeses.

 

A Rel-UITA felicita o governo brasileiro pelo reconhecimento a esta lutadora de primeira linha, e sobretudo abraça calorosa e fraternalmente a Joelma e, através desse abraço, a todas e a todos aqueles que, colocando em risco as suas próprias vidas, e muitas vezes as de seus familiares, lutam no Brasil e na América Latina pelo direito à terra, aos seus frutos e por uma convivência sem medo, com justiça e dignidade.